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Mateus Katupha. “o meu pai era polígamo, tinha oito mulheres.

“o meu pai era polígamo, tinha oito mulheres, eu era o filho da mulher mais velha do meu pai e era o quinto da família da mesma mãe e pai; O meu pai tem muitos filhos e alguns deles não os conheço”

Ums conhecem Dr Katupha como PCA da PETROMOC, outros como Deputado, como Docente, outros ainda conhcereram-no como Ministro. Quem é Mateus Katupha?

Resp: Eu chamo-me José Mateus Muária Katupha, é um nome cristão, mas sou filho de pais Muçulumanos. Nasci em 1955 e há alguns que dizem que nasci em 1953...porque na altura havia muito analfabetismo, o meu pai sabia ler árabe, mas pela tradição não tinha muito costume de registar nascimentos dos seus filhos, tanto é que o meu pai era polígamo, tinha oito mulheres, eu era o filho da mulher mais velha do meu pai e eu era o quinto da família da mesma mãe e pai. O meu pai tem muitos filhos e alguns deles não os conheço. Outros agora que tenho este estigma de figura aparecem de vez em quando...

Os meus pais são camponeses, o meu pai fazia parte do grupo que pode se considerar da realeza, porque fazia parte dos regulus da região, era acessor do regulu Megama e era primo do regulu Muária, de Chiure, daí que eu e Carvalho Muária, Governador de Zambézia, somos primos.

Perg. A Escola...

Rsp: Por volta de 1960, 61, 62, fui para a escola Missão de Santa Isabel Rainha de Portugal de Chiure, devia ter mais ou menos oito anos, nessa altura não tinha se quer dinheiro para comprar material escolar “uma ardósia”. Cheguei a comprar o meu primeiro livro fruto de venda de castanha de caju...

Perg. O nome...
O meu nome Mateus teve origem na missão quando deram-me um pedaço de leitura que era do Evangelho São Mateus e consegui ler sem ser alfabetizado, daí que as irmãs apelidaram-me o nome “Mateus”...

E porque de acordo com o meu pai, eu teria nascido em Março entre 15 a 30 de Março, os missionários por aproximação, colocaram que o meu nome era José, portanto pelo dia de São José, dia 19 de Março. Portanto eu sou José Mateus Katupha!

O Katupha Padre...
Foi através da simpatia com as irmãs que pediram ao meu pai para ser baptizado e estudar para ser padre “seminarista”. Na altura havia pressões muito grandes do regime colonial, exactamente da PIDE, e o meu pai por temer a pressão dos portugueses aceitou que eu fosse estudar para ser padre... É daí que sou baptizado em 1965, no mesmo ano fui para o Seminário Menor e em 1972 terminei o ensino secundário seminarístico e em 73 fui para Porto Amélia, para continuar com os estudos do seminário. Em 1975 terminei a Teologia e em 76 devia ser ordenado padre. Na altura o governador de Cabo Delgado era o Raimundo Pachinuapa e fui ter com ele, disse que não queria mais ser Padre e ele tomou a decisão de me mandar para Maputo para seguir para Bulgária para fazer curso de Agricultura. Quando chego a Maputo, o avião já tinha seguido e fiquei!

A Política...
Perdi a viajem para Bulgária e fiquei no Self da Universidade Eduardo Mondane, daí eu queria fazer medicina ou advocacia, mas devido a política da Frelimo, na altura, de canalizar os estudantes, fui para o curso de letras. Muito ao meu descontento fiz o bacharelato em 1979, mas em 77, 78, envolvi-me muito na política, entrei para os grupos dinamizadores da Faculdade de Letras, passei para OJM e foi junto desta organização que ganhei a dimensão que ganhei... Cheguei a ser indicado para viajar com o Presidente Samora Machel à Vietname para ser interprete da delegação, mas a última hora não viajei, e a partir daí fico muito envolvido nas acções da organização. O Presidente Samora Machel entende que eu devia ir estudar e foi me atribuído uma bolsa, quinze dias depois de me ter casado deixei o país e fui estudar para Inglaterra.

Foi durante a minha estadia na Inglaterra que mantenho um contacto mais ligado com o Presidente Samora Machel. Depois do mestrado voltei e sou eleito Membro do Secretariado do Comité Central da OJM e a pasta era para os assuntos estudantis, por volta de 1983, se a memória não me trai. Nessa mesma altura o Presidente Samora resolve visitar União Soviética e faço parte da delegação, juntamente com Ivo Garrido e muitos outros, mas nós os dois éramos os privilegiados e tomávamos as refeições com o Presidente Samora, na casa onde ele estava hospedado conjuntamente com a mamã Graça ... Foi marcante porque o Samora descobriu em mim o valor da pessoa que ele queria que trabalhasse com ele...

Quando o Presidente Samora morre, o Presidente Chissano chama-me e diz que devia ir continuar com os meus estudos. Voltei a Inglaterra para fazer o meu doutoramento e o Presidente Chissano acompanhou o meu movimento, criamos a Associação dos Estudantes Moçambicanos residentes no Reino Unido, fui Presidente e associámo-nos aos movimento de apoio da Inglaterra aos países africanos, fizemos um trabalho interessante de tal forma que o Presidente Chissano decidiu nomear-me Ministro no mesmo dia em que defendi a minha tese de doutoramento, voltei a Moçambique feito “Ministro” da Cultura. Fiquei com esse cargo durante um ano e meio, depois fui nomeado Ministro da Cultura e Juventude, um ano depois fui nomeado Ministro da Cultura, Juventude e Desporto, até que no ano 2004, não me lembro exactamente, chegou a altura de deixar o governo, no qual estive durante nove anos e seis meses...

Quando eu volto da Inglaterra, enquanto Ministro tive a honra de lidar com a juventude e apercebí-me dos problemas na área de desporto e emprego, deixo de ser Ministro e vou para Assembleia da República e ao fim deste mandato que está para terminar vou fazer dez anos de Deputado e durante estes dez anos como Porta-Voz da Comissão Permanente da Assembleia da República, fui membro da Comissão Permanente, Chefe da Delegação da União Inter-parlamentar, e também neste último mandato faço parte do Conselho Consultivo da Administração da Assembleia da República. Sob ponto de vista político, desde que voltei da Inglaterra fui membro do Comité Central Suplente passei para membro do Comité Central, passei para membro da Comissão Política com um mandato de cinco anos e durante o tempo em que estou na Assembleia da República também fui Director da Escola Central do Partido Frelimo e a um ano atrás fui designado Presidente do Conselho de Administração da Petróleos de Moçambique.


O Casamento...
A ideia de casar foi muito interessante porque era seminarista “depois de muito tempo a ser educado para não olhar mulher como mulher”. Eu casei com a primeira mulher com quem eu namorei, portanto a engenheira “que Deus a guarde” Gertrudes José Mavie, daqui de Maputo, era uma mulher machope, conhecí a ela na Universidade “no Self” e ficamos amigos... eu camponês vindo de Cabo Delgado, ela uma mulher muito simples e namoramos. Tive muitas dificuldades de convencer os Pais para casar porque o Pai não estava convencido que um indivíduo do norte fosse capaz de satisfazer as suas espectativas. Depois de casarmos a maior dificuldade foi de quinze dias depois ter que deixar a minha mulher para ir estudar para Inglaterra e ela convencer os Pais. Mas depois conseguimos que ela viesse juntar-se a mim na Inglaterra, quatro anos depois e ficamos lá juntos cerca de 4 anos . Os meus filhos nasceram aqui, mas aprenderam a dar os primeiros passos na Inglaterra “o primeiro tem 27 anos e o segundo tem 24 e está a estudar na Africa do Sul”.

“ Muitos perguntam: Porque é que os filhos dos políticos as vezes ficam aí... É porque os políticos entregam-se a vida política de tal maneira que muitos de nós não conseguimos encontrar espaço para dedicar aos nosso filhos” Eu tive muitas dificuldades de estar muito com a família, agora talvez um pouco maduro, as coisas são muito mais simples... de ha seis anos para cá tenho conseguido...

Depois que perdí a minha esposa, voltei a casar-me, ha seis anos atrás, tive uma menina, está com cinco anos. A minha esposa tem 45 anos, ela está a dirigir a nossa empresa de Construção Civil e a empresa esta a andar bem. A minha esposa tem 9ª classe do antigo sistema, por muito tempo foi bancária e hoje muita gente a trata por arquitecta, mas simplesmente ela é muito curiosa.

Eu não penso que é a formação que une as pessoas... eu penso que me sinto feliz no plano relacionamento e na realização dos nossos planos de família.

A Docencia...

Eu fui professor sempre, desde Porto Amélia, na altura, era professor no Colégio, estudava 7º ano de Teologia e dava aulas, quando venho a Maputo, logo depois do meu segundo ano na Universidade comecei a dar aulas de lingua Portuguesa aos estrangeiros e foi sempre uma actividade de docencia na Universidade, hoje há grande parte de professores Catedráticos que foram meus alunos, é o caso do Professor Doutor Armindo Ngunga, Marcino Lipola, Gregório Firmino, o Matsinhe, um bom número deles e eu continuo sempre um professor...

Perg. Sente-se realizado?
Rsp: O Homem que se sente realizado é como uma fonte seca...

Perg. Quando está de férias costuma viajar?
Rsp: O meu problema é que não sei dizer o que é estar de férias, mas quando eu estou de férias aproveito bastante para ler, havia algum tempo que eu gostava de viajar, mas o que acontece é que viajei tanto pelo mundo fora que não há nenhum lado que me atrai para viajar. Agora por razões de família, a minha esposa gosta muito de Brasil, estivemos lá na nossa Lua-De-Mel e agora penso que vamos realizar uma viagem para compensar a ela...

Mas eu gosto de conhecer o País, já estive em Angónia, na alta Zambézia, na Ilha de Moçambique, na Ilha do Ibo, é tudo uma maravilha... eu acho que uma área onde não explorei bem e gostaria de explorar é a província de Inhambane.

Os favoritos do Katupha!!!

TVs – Noticiários da TVM, BBC, CNN, Al Jazzera
Rádios – RM, BBC e RFI(Rádio França Internacional)
Pensamento de Mateus Katupha “Quando se é acadêmico se é conscientemente político”
O Conselho
O segredo é a persistência, não ter medo de ir a luta...!