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Rosa Langa, Repórter da Rádio Moçambique e escritora


O meu pai era escriturário, na altura prestava serviços no exército colonial, mas ao mesmo tempo colaborava com os camaradas que estavam na luta armada. Fomos para Monapo, em Nampula, ficamos alguns anos, mais tarde andamos pelo país, até que em 1974, indicado pelo saudoso Samora Machel, fomos parar no distrito de Morrumbala, meu pai como Administrador e lá ficamos nos preparativos para a Independência acompanhei e prontos, esse andar de um lado para outro. Ainda criança conheci muitas partes de Moçambique e estas viagens eram curiosamente feitas de Land Rover, o meu pai é doido de Land Rover, portanto viajavamos em missão de serviço do meu pai.



Perg: Rosa Langa, de onde é que és?

Rosa: Eu nasci em Chibuto, província de Gaza, sou de Agosto, signo leão, o ano não me lembro bem...risos, havia sim muita seca, nem a década lembro, mas foi antes da Independência. Ví com os meus olhos os preparativos para a Independência.


Perg: Como foi a tua escola, nessas andanças?

Rosa: Era tranquila, porque quando saíamos de um distrito para o outro, havia guia de marcha para encaminhar-me a escola do distrito que eu fosse viver. As vezes chegava no meio do ano, às vezes no fim, tinha que fazer novos amigos, isso é que era um pouco complicado.

Perg: Como é que voltas a Maputo?

Rosa: Porque minha mãe suicidou-se e o meu pai arranjou outra senhora, antes o casamento da minha mãe já não estava saudável, por... não gosto muito de falar desse assunto!

Perg: Quando chegaram a Maputo vinham de que província?

Rosa: Vínhamos da província da Zambézia, porque no distrito onde estávamos a guerra civil estava a intensificar-se, foi em 1985 no distrito de Gurué, e os militares da Renamo obrigavam-nos a fugir e dormir nas plantações de chá, nessa altura o meu pai era Director Adjunto Nacional das Empresas de Chá. Saímos em meados de 85 e três dias depois os militares da Renamo invadiram a vila onde estávamos e mataram muita gente. De Gurué, fomos a Quelimane e em 1988 faleceu a minha mãe e a meio do ano tivemos que vir a Maputo, junto com o meu pai.





Perg: Como é que a Rosa interessa-se pela comunicação social?

Rosa: Na fase de adolescência, nos distritos todos onde andámos pela Zambézia, em casa, a minha mãe sempre foi fã de rádio, antena nacional. Ela tinha os seus programas de eleição, mas ela fazia questão que escutássemos o programa da criança. Ela insistia: vocês vão aprender forma de ser... A partir daí fui ouvindo rádio, rádio, rádio e para além do programa da criança eu gostava de ouvir duas vozes, a da Glória Muianga e Maria Judite! Eu não as conhecia de lado nenhum, mas a cada vez que as ouvia eu adorava ainda mais. e tinha dois sonhos: um ser hospedeira porque andava muito de avião por causa da profissão do cota tínhamos um cartão que a qualquer momento podíamos viajar de avião. O outro sonho era: ser locutora, porque não sabia que há esta coisa de ser jornalista ou nanana..., de rádio, sabia que é ser locutora só.

Fui crescendo e chegados a Maputo, sem mãe, tinha que tentar procurar emprego... e agora vamos ver se tentámos concretizar um dos dois sonhos, mas o que batia era ser hospedeira. Como conhecia algumas hospedeiras fui lá, já eram Linhas Aéreas de Moçambique, Chumbei nos testes porque a minha altura não correspondia. Deram-me uma alternativa que era ficar no balcão, eu disse não, eu vim aqui para voar... nada feito!

Saí cheteada, foi um choque... Agora plano B – Locução. Comecei a perguntar as pessoas: como é locução? As pessoas: Ah esquece, não vale a pena! Para tu entrares naquele dinossauro da Rádio Moçambique tens que ter padrinhos, contaram-me uma série de coisas, tudo isso porque naquela altura quem entrasse na Rádio Moçambique ohhh...

Em 1994, o meu primo Hortêncio Langa “músico” convidou-me para fazer parte da Associação dos Músicos para ensinar-me o ABC de escrever noticiário para uma revista porque ele era o director da revista da Associação dos Músicos, lá fui e na altura o meu ordenado era 400Mt. Lá fiquei um ano porque depois de começar a escrever a revista e tal, tal, tal, recebi o convite do extinto jornal campeão que era um jornal cultural e desportivo, colaborei na página cultural e a pouco e pouco fui aprendendo algumas coisas e depois saí, convidaram-me para a revista Tempo, mas já estava a falir também. Antes saí do Campeão porque estava a bater falência, fui a revista Tempo, três meses também bateu falência... e agora, estou desempregada! Nessa altura eu já tinha o meu filho então disse: não, agora vou a rádio, imprensa escrita já passei por lá, vamos lá ver.

A Rádio?
Fui para a Radio Cidade, porque ouvia muito a Radio Cidade e gostava daquele bit! Eu fui humilde porque eu disse não vou entrar para a antena nacional porque aquilo é para maduros e eu era crua.... Cheguei a rádio cidade encontrei Izdine Faquirá (director). Cheguei lá e disse: Peço emprego. Ele disse emprego? Vens de onde? Eu levava comigo recortes de algumas publicações por mím feitas nos jornais onde trabalhara anteriormente, tanto mais que o “Compasso” (programa cultural da Antena Nacional) aproveitava algumas peças minhas do jornal cultural Campeão e Revista Tempo para fazer o programa e mostrei! Então ele disse: vem amanhã! No dia seguinte, vem amanhã, terceiro dia, vem amanhã, e andei três meses no vem amanhã! Até que num belo dia recebeu-me e disse: Lamento imenso porque não tiveste formação de Rádio, não passaste da escola de jornalismo, experimenta bater outra porta!!! Desci as escadas do quarto andar com as lágrimas no rosto, quando chego no segundo, sai o Daude Amade que era o director de programas e disse: Rosa por aqui a chorar porque? Eu contei-lhe... Ele disse eu conheço-te do jornal Campeão e da Revista Tempo ainda estás lá, eu disse: não, bateu falência tudo, ele disse amanhã, as 06 horas quero-te aqui e as 09 vais entrar em directo com duas perguntas para entrevistar o Dr Ramos Horta, prémio Nobel da Paz, se conseguires estás empregada! Uhuhhh, eu nunca tinha pegue gravador, depois de me apresentada a sala pedi ajuda para ensinarem-me a usar gravador e a Glória Muianga, deu-me as dicas. No mesmo dia foi-me dada uma missão de ir fazer a cobertura da FACIM, e lá estavam maduros na área, o Fernando Lima, Arão Cuambe, Emílio Manhique e eu não os conhecia de lado nenhum, eu a mais pequenina. Então na entrevista ao Dr Ramos Horta, eu lanço a minha primeira pergunta, lanço a segunda e disse: não vou arriscar a terceira...

epah, como estava tão atrapalhada, não me lembro como é que formulei a pergunta, só sei que depois da pergunta, todos viraram-se para mím e começaram a rir, inclusive o entrevistado (o Dr Ramos Horta) riu-se em directo, olhou para mim e disse: oh miúda de que canal és? Haaaahhhh papapapahhh, eu fiquei receosa, que ia perder emprego, mas epah sejá o que Deus quiser, eu vou dizer porque de certeza a pessoa que mandou-me está a ouvir, e eu disse: Rádio Moçambique. E ele pergunta: Que canal é Rádio Moçambique? Então o Fernando Lima explica-lhe: É o maior canal e mais sério de Rádio em Moçambique, e o Dr Ramos Horta disse, “oh menina tu misturaste alhos com bucalhos, mas de qualquer forma eu percebi qual é a pergunta que querias fazer, vou responder! Respondeu, mas todos a rirem-se de mimmmm!

Depois da resposta, nem mais quis saber, peguei no meu gravador e fui-me embora! Quando cheguei a Rádio, a fazer a minha oração, o director de programas olhou para mim e riu-se e disse: Ta bem, o que me faz confiar em ti, é a tua ousadia, estás admitida. Ficas aqui hão-de dizer qual é o teu trabalho! Eu perguntei: É verdade mesmo? Ele disse, se duvidas, por onde entraste podes sair. Eu agradeci! E me foi dada o trabalho ainda para aquele dia...

Perg: Tiveste uma passagem pela Rádio Cidade, como é que foi?

Rosa: Vou a Rádio Cidade creio que em 1999, fazia dueto com Sanção Alfredo, no programa Tic Tac. Foi um programa que fez muito sucesso, a prova disso foram alguns prémios de eleição para o melhor programa da Rádio Cidade que ganhámos. Sem exagero, quase que 90 porcento dos chapeiros, a hora do nosso programa estavam ligados. Na Rádio Cidade dei o meu máximo e aquilo que eu queria fazer a anos quando fui bater a porta.

Perg. A viajem para os Estados Unidos?

Rosa: Bem, na altura eu ganhei um prémio da Tvzine, como melhor jornalista cultural, pelo facto de ter estado encima dos acontecimentos. O que ditou este prémio, foi a maneira como eu conduzi o momento em que a cantora Zaida Chongo começou a ficar doente , até ao enterro dela em Lhanguene. Nessa gala convidaram o corpo Diplomático acreditado em Moçambique e estava lá a embaixada dos Estados Unidos, departamento cultural e eu nem sabia que receberia o prémio naquele dia, “o tiro saiu-me pela culatra”. Dentre tantos estava eu na área cultural radiofónica. Então a RTP entrevistou-me naquele momento estava a adida cultural, e a RTP pergunta-me: Rosa qual é o teu país de sonhos? Eu respondi é conhecer Estados Unidos, em particular dois lugares: Holliwood e a casa de Elvis Presley e a adida ouviu.

Dia seguinte meti-me na minha aventura anual que fazia de Sul a Norte, pulando de canto a canto, de chapa.

15 dias depois eu estava a entrar em Cabo Delgado recebo uma chamada da adida, ela diz Rosa, amanha podes te apresentar na embaixada, a tua viajem de sonhos vai concretizar-se, tenho em mão o teu bilhete para trinta dias nos EUA, com tudo pago, faça os possíveis, vou dar-te três dias para cá estares porque o bilhete está com data marcada! Eu não tinha dinheiro suficiente para apanhar avião “ graças as influências ela conseguiu dinheiro e lugar no avião que até teve que se subtrair alguém pois o avião estava lotado, bom ser jornalista... uhu... escuta a entrevista”

Perg: Quer lembrar-nos o aparecimento do seu primeiro e único filho?

Rosa: Bem isso aconteceu quando cheguei a Maputo, eu menina provinciana e ele de Maputo, engravidou-me e não assumiu a paternidade, eu tinha 22 anos. O meu pai correu-me de casa! Com o meu sacrifício criei e eduquei o meu filho, o pouco que ganhava drenava na educação do meu filho e agora está no 1º ano de Engenharia de Informática, eu considero meu assessor particular, porque muitas coisas partilhamos juntos.

Perg: Conseguiste entender a atitude do teu pai?

Rosa: ehhh, sabes não gosto muito de falar do meu pai!

Perg: Rosa está solteira?

Rosa: Sim, sim, sim... Solteira mas o sonho é um dia casar, como estou careca, não posso dizer que vou usar grinalda, nem o véu, nem...risos, mas também ando assim por questões de saúde! O Namorado existe, não é moçambicano, mas vive em Moçambique.

Perg: Quando é que pensaste que querias ser escritora?

Rosa: Uhhh, eu não sou uma escritora, sou uma curiosa, escritora se pode considerar a Lília Momplé, o Marcelino dos Santos é um escritor... esses sim! Mas a minha história começa quando um amigo meu queria algo diferente para compor uma peça de cena aberta e eu tinha no meu cacifo, nessa altura, cerca de 200 bobines, com diferentes entrevistas, ele abriu cacifo e espantou-se com o número de bobines. Depois ele deu-me a ideia de transcrever todas as entrevistas arquivadas para um livro. Eu não aceitei a ideia. Na verdade havia duas filas de bobines, uma de artistas mortos, outra de vivos... O meu amigo e um colega meu, Ori Pota Chapata, que concordava com a ideia levaram dois meses a tentarem convencer-me, até que um dia conseguiram! O Ori Pota disponibilizou-se a compilar, dia e noite, até que terminou, foi o primeiro livro, “ Moçambique, Mulheres e Vida” publicado em 2006, porque depois da compilação fiquei um ano sem conseguir patrocínio para o lançamento.

As empresas diziam: um livro que fala da vida íntima, tu Rosa estás a entrar nas calcinhas das mulheres, é anti-ético, não fica bem. Eu guardei o livro até que um dia alguém na MCEL lembrou-se e pediu para ver o livro, gostaram e financiaram.

Em 2006 saiu o meu primeiro livro com 30 entrevistas de 30 mulheres e estratos diferentes, desde a prostituta do Araújo até a primeira Dama, primeira Ministra, etc, desde perguntas do tipo: Como é que foi a primeira relação sexual, com quem foi, o que sentiu, a primeira menstruação, o que usou, uma toalhinha... O livro só ficou três meses nas prateleiras, esgotou! E 2008 publico o outro “ As Inconfidências dos Homens” esse foi mesmo a matar!

Perg: Sentes-te realizada, na Comunicação Social?

Rosa: Não...



Os favoritos da Rosa Langa

Rádios: RDP África, Antena Nacional
TVs: RTP, TPA, Notícias em todos canais nacionais
Vestuário: Roupas coloridas – influência da cultura do norte

Dica para os Jovens:

Rosa Langa: ...Imperioso que deam pernas aos vossos sonhos, não basta querer, tem que apostar, é preciso sabedoria, atenção, e acima de tudo ética e boas maneiras!

O Maior Sonho:


Ver o filho formado e ter netos!