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Kátia Vanessa Omar Ibraimo
Aprsentadora de TV & Psicóloga


Passam-se os tempos, pioram-se as atitudes e comportamentos de certos cidadãos moçambicanos!
Há poucos dias, numa quarta-feira, dirigi-me a um dos balcões de um dos bancos da nossa cidade de Maputo, de forma a efectuar um depósito. Chegada lá, diante de uma “bicha” enorme, fui logo ao encontro de uma das caixas, que estava desocupada. É de referir que tenho, neste estado em que me encontro de gravidez, a sorte de não esperar na fila, e por isso também não hesitei (conhecedora deste meu direito) e passei à frente. Ia tudo normal, quando de repente um senhor que era o primeiro da fila chegou-se à senhora da caixa e a mim e perguntou: “Aqui não se forma fila? Como é que isto funciona afinal?”, num tom muito sarcástico. Bem, como eu não sou de levar desaforo para casa perante atitudes destas tão descabidas, respondi à provocação com outra pergunta: “O senhor não vê que estou grávida?!”. E não é que ele me responde: “Gravidez não é doença”. Bem, foi aí que eu explodi! E começou uma troca de palavras que me levaram logo a crer que este senhor com quem eu falava, tentando chamá-lo à razão e bom senso, não passava de um homem ignorante, sem ética, moral e educação nenhuma, infelizmente como muitos que nos rodeiam. E ainda disse que é “um pai de família”! Coitados dos seus filhos!
Este episódio estragou o meu dia, deixou-me completamente arrasada e insultada como mulher e pessoa, e pôs-me a reflectir sobre os princípios éticos e morais que regem a nossa sociedade. Fez-me pensar sobre o civismo, o saber ser e estar na sociedade e lidar com o outro. Fez-me pensar e perguntar “O que está a faltar na educação? O que está a faltar para que as pessoas mostrem o mínimo de respeito pelo outro e saibam conviver de forma harmoniosa na sociedade, no caso concreto de Moçambique? Porque como este senhor, existem outras pessoas com o mesmo pensamento que rodeiam o nosso país (eu mesma já assisti a vários episódios não só ligados a mulheres grávidas mas também a crianças, idosos, pessoas vivendo com deficiência física e mental, etc.) e isto intriga-me profundamente!
Podemos considerar vários factores, a meu ver, que contribuam para isto:
1 – A personalidade da pessoa – em psicologia identificam-se vários e diferentes tipos de personalidade, que ocupariam aqui muitas páginas a serem descritos, mas escrevendo de forma resumida, posso dizer que eles diferenciam as pessoas em mais introvertidas ou mais extrovertidas, mais frias e calculistas ou mais benevolentes e solidárias, mais espontâneas e emotivas ou mais individualistas, etc. Cada pessoa se ajusta a um tipo de personalidade, que compõe várias características, mas isso não quer dizer que todas as pessoas não sejam únicas, pois elas certamente são. Cinquenta pessoas do mesmo tipo de personalidade numa sala, por exemplo, seriam todas diferentes porque elas têm pais, genes, experiências, interesses diferentes e assim por diante. Mas elas também teriam muito em comum.
E como a personalidade não é estática, mas moldável consoante os factores acima mencionados no exemplo e outros, não se deve considerá-la como suprema, aí vem o segundo factor:
2 – A educação do pais/lar – diz vulgarmente o senso comum “esta pessoa não bebeu o chá…” ou “esta pessoa não teve berço”, quando se quer referir ao facto de que ela não teve uma educação correcta vinda do seu lar, dos seus pais. Isto mostra que este factor é muito preponderante para a formação da personalidade da pessoa (que como já disse, pode ser moldada) e que é muito considerada pelos outros como forma de avaliação da maneira de ser e estar de uma determinada pessoa.
A maneira como os nossos pais ou nossos parentes nos vão educar na infância e adolescência é que vai ditar muito daquilo que seremos no futuro. Vemos muitos pais a se perguntarem “Mas onde foi que eu errei?”, quando um filho os decepciona, sem ter noção de que algo pode ter falhado na sua educação. Não é que eles sejam 100% culpados, mas têm sim uma boa quota de culpa no cartório.
Se os pais têm sentimentos patrióticos, o respeito pela honradez, o desprezo pelo luxo ou pela vida irregular, a criança assimilará estes sentimentos sem que os pais cheguem a fazer qualquer esforço consciente para lhos inculcar. Os juízos de valor do ambiente familiar, isto é, os de seus pais, constituem para ela coisas evidentes e inclusive as regras habituais da sociedade, como estender a mão direita, ou não por a língua de fora.
“Esta influência dos pais é irresistível, precisamente na medida em que se encontram unidos e em que a acção do pai e a da mãe mutuamente se reforçam: é irresistível porque todo o complexo familiar leva a criança a depositar confiança nos pais.”
3 – A influência social – Nesta incluem-se os amigos ou grupo de amigos, que podem determinar a forma de pensar e agir de um indivíduo que muitas vezes acaba por ser influenciado para ser aceite nesse grupo. Isto é um processo social que acontece, mas ora aí está, se a nossa personalidade e a educação que tivemos em casa forem fortes, não nos deixaremos influenciar pelos outros (falando da influência negativa).
4 - A educação formal /escolar, a influência dos mídia (televisão, internet, etc.) também são outros factores que a meu ver contribuem para a nossa formação como pessoas.
Eu podia entrar aqui em detalhes, analisar o estado e a qualidade do ensino no nosso país, medir a quantidade e qualidade de esforços que têm sido feitos em campanhas de sensibilização e consciencialização, a influência negativa que algumas figuras públicas têm transmitido às pessoas, e olhar também para a história do nosso país e para a cultura do nosso povo e considerá-las como factores que determinam a formação do Homem. Sim, tudo isto a meu ver joga como factor, mas o papel dos pais é o mais importante e primordial na educação do Homem, na preparação deste homem para viver de forma digna, harmoniosa e honrosa em sociedade. Por isso diz-se “ser pai não é fácil!”.
Eu tento compreender as atitudes e o comportamento das pessoas, atitudes negativas principalmente, de forma a encontrar uma explicação da razão de tais atitudes e comportamentos; porque acredito ou talvez tenha a ilusão de que um dia possamos viver todos em harmonia.
Para terminar, a última coisa que eu disse ao senhor que me fez escrever esta crónica foi: “É também por causa de pessoas como o senhor que o nosso país não anda!”.

Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro desperta. - C. G. Jung