Dr.Eduardo Cruz
Director da FORMEDIA
Em Moçambique, como em todo o mundo, o mundo empresarial é dominado pela existência das PME, as pequenas e médias empresas. Mais de 95% do tecido empresarial é constituído por empresas com menos de 250 trabalhadores. As empresas com menos de 10 trabalhadores dominam a mancha produtiva. São as microempresas.
A mortalidade destas empresas é muito grande. Nos primeiros 5 anos de actividade, 80% das empresas desaparecem (EUA). Este facto é muito estranho, já que vivemos em sociedades onde a esperança de vida é já de 79 anos, como é o caso de Portugal. Em Moçambique, trabalha-se para lá chegar – ao nascer, segundo o INE, é apenas de 42 anos: http://www.ine.gov.mz/censos_dir/recenseamento_geral/estudos_analise/Morte. No meu caso, a FORMEDIA tem 23 anos. Há que preparar os próximos 10 ou 20 anos. A Visão Jovem Moçambicana quantos anos quer viver? Não sei responder, mas quer de certeza contribuir para aumentar a esperança de vida dos moçambicanos.
Por que razão tantas empresas fracassam? Por que são tão frágeis? Diz Michael Gerber, um empresário americano que fundou a E-Myth Academy, que o fracasso se deve ao mito do empresário.
Qual é o mito do empresário?
A ideia é de que as empresas são lançadas por empresários que arriscam capital para obterem lucros.
A realidade é bem diferente. Obriga a fazer algumas perguntas que permitem desfazer o mito. Quem é o empresário? Onde estava antes de lançar a empresa? O que é que o empresário fazia? Como decidiu criar uma empresa? E, o que é que estes empresários não aprenderam, que é essencial para o sucesso ou a sobrevivência da empresa?
A verdade é que ninguém nasce empresário. A maior parte deles também não aprende a ser empresário. O erro fatal cometido pela maioria deriva da sua função anterior. O empresário é geralmente um técnico que num dia, por diversas razões, resolve criar uma empresa.
“Se sei fazer o trabalho técnico num certo tipo de negócio, então também sei conduzir um negócio que faça esse trabalho”. Daqui para o desastre ou para a ineficácia vai um pequeno passo. A realidade é que o trabalho técnico e a condução do negócio são duas coisas completamente diferentes.
Entre a euforia e o desespero
O técnico que sofre do Síndroma Empresarial, como diz Gerber, quando se transforma em patrão de si próprio, passa pela euforia, depois pelo terror, pela exaustão e finalmente pelo desespero. O trabalho que gostava de fazer, transforma-se muitas vezes num emprego que é preciso despachar, para arranjar tempo para outras coisas que também têm de ser feitas. O prazer da actividade que exercia com competência, transforma-se numa escravidão, sem horas , nem tempo para a família ou os amigos.
A Santíssima Trindade
A verdade é que em cada um de nós coexistem em graus diferentes três pessoas: o empresário, o gestor e o técnico. Cada pessoa quer ser o Patrão. Mas nenhuma quer ter um Patrão.
O Empresário representa o nosso lado visionário, sonhador. A energia, a imaginação, o catalisador. Vive no futuro, nunca no passado, raramente presente. Manifesta forte necessidade de controlo, sobre pessoas e acontecimentos. Para o empresário típico,
as pessoas representam um problema no caminho do sonho.
O gestor é pragmático. É a pessoa do planeamento, da ordem da previsibilidade. Prefere a manutenção das coisas, em vez da mudança. Corre atrás do empresário para limpar a confusão que este estabelece. A tensão entre a visão do Empresário e o pragmatismo do Gestor podemos criar a síntese que dá origem às grandes realizações. Infelizmente, no mundo real, isso raramente acontece.
“Quem quer vai, quem não quer, manda”, é o lema do técnico. Trabalha de forma sistemática, e só é feliz quando comanda o fluxo do trabalho - mesmo que isso signifique não ter prazos. O técnico detesta ser interrompido pelo empresário, cheio de novas ideias. Detesta também ser interrompido pelo gestor, o intrometido a evitar, aquele que quer impor prazos e custos que não podem ser ultrapassados.
Todos temos dentro de nós um Empresário, um Gestor e um Técnico. Se estas três pessoas conseguem conviver em equilíbrio, somos incrivelmente competentes. Mas quase sempre, é o técnico quem manda. E nesse caso, o empresário está morto.
Para a empresa, é o desastre, o princípio do fim.
Como transformar o técnico num empresário que lidera uma empresa de sucesso será o objectivo do diálogo consigo. Escreva, duvide, conteste.
Eduardo Cruz é Director Geral da FORMEDIA Instituto Europeu de Empresários e Gestores, onde desenvolve um trabalho de apoio à criação e desenvolvimento de empresas. Nos últimos anos tem concentrado a sua actividade no mundo de língua portuguesa, no desenvolvimento do espírito empresarial e na formação de gestores de qualidade internacional, através de mestrados e especializações a distância.
edcruz@formedia.pt
www.formedia.pt
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