A relação das crianças com o dinheiro é algo que preocupa os pais. Habitualmente questionam-se sobre a forma como poderão transmitir-lhes os valores familiares.
O orçamento familiar, o preço dos bens essenciais, o valor da mochila, o valor de um par de sapatos... Há quem faça participar os seus filhos nestas questões, enquanto que outros, pelo contrário, os preservam e mantêm afastados de todos os assuntos relacionados com o dinheiro. No entanto, numa sociedade onde o consumo é um elemento de destaque, o valor do dinheiro deve ser precocemente compreendido pelas crianças.
Eu quero uma playstation...
Eu quero uma mochila nova...
Uma característica das crianças é a necessidade imediata com que precisam de satisfazer as suas necessidades. E os caprichos são uma clara manifestação dessa impossibilidade de esperar. O seu psiquismo infantil rege-se principalmente pelo princípio do prazer, através do qual - como o seu nome indica - a criança quer evitar a frustração, procurando a satisfação de uma forma imediata. A esta premissa obrigatoriamente começará a opor-se outra, conhecida como o princípio da realidade, que permitirá à criança suportar a espera, adaptando-se às condições impostas por cada situação, pelos outros e pelo social. Para o conseguir, é necessária a ajuda dos pais, dado que se não encontrarem um equilíbrio entre os seus pedidos e a satisfação dos mesmos, as crianças irão sentir pouco essa imposição de limites, o que lhes provocará inevitavelmente uma dificuldade em lidar com a frustração e com o “não”.
O imprescindível e o dispensável
O ideal é que, pouco a pouco, a criança vá entendendo que entre ela e as coisas que tanto deseja, existe um passo intermédio, que é preenchido pelo dinheiro. Só nessa altura começará a compreender o valor do dinheiro como moeda de troca. Quando uma criança pede alguma coisa e os pais não podem corresponder a esse desejo, muitos pais sentem-se angustiados e em falta com a criança. Poder distinguir que há milhões de coisas que não são importantes nem necessárias e conversar sobre estes temas com as crianças, permitir-lhes-á ir distinguindo o imprescindível daquilo que é dispensável. É importante que as crianças possam conhecer as razões que apoiam essas escolhas e entendam que os pais têm de trabalhar duramente para receberem o dinheiro que permitirá manter todas as necessidades familiares e alguns dos seus caprichos.
O dinheiro como retribuição
É tarefa dos pais transmitir-lhes desde pequenos que o dinheiro se obtém em troca do esforço laboral. As crianças não compreendem facilmente a relação do dinheiro com o trabalho. No entanto, é necessário ter em atenção que somente por volta dos 8 anos de idade é que estas associações começam a ter algum sentido para as crianças. Nesta idade as crianças já começam a ter um ponto de vista menos egocêntrico do mundo à sua volta e podem estabelecer conexões entre as causas e as suas consequências.
A semanada
Muito embora só a partir dos 10 ou 12 anos as crianças comecem a manejar melhor a possibilidade de administrar o dinheiro, hoje em dia, muitos pais já dão uma semanada aos filhos muito mais cedo, dada a necessidade que a criança tem de adquirir diariamente alguns bens nos estabelecimentos de ensino. É importante acompanhá-las nas primeiras decisões, conversando com elas sobre o destino que irão dar a esse dinheiro. Se a quantia destinada para durar uma semana contempla uma verba diária, pode acontecer que em determinada ocasião, a criança se sinta tentada a gastar tudo no primeiro dia. Então, será essencial que os pais verifiquem as causas, e perante elas, decidirem se lhe devem dar mais dinheiro durante essa semana. Se a criança decidiu gastar tudo de uma vez, tendo consciência disso, é uma opção que se deverá respeitar, embora devam aconselhar a criança a organizar melhor o seu dinheiro. A ideia é acompanhá-la neste processo de aprendizagem, permitindo-lhe enganar-se mas ensinando-lhe as consequências. Talvez na próxima semana já seja um pouco mais precavida…
Se é uma criança excessivamente poupada, e antes prefere guardar a sua mesada do que gastar o dinheiro, podemos propor-lhe algum sistema de poupança em particular, ou então ensiná-la a fazer uso dele e a desfrutar também de gastá-lo nas suas necessidades.
Grãozinho a grãozinho
Um mealheiro permite fomentar nas crianças a ideia da poupança, e pode ser uma boa oportunidade para aprender a suportar a ansiedade de gastar dinheiro e aprender a reservar pelo menos uma parte para atingir um objectivo. O dinheiro que recebe como prenda de anos ou de Natal, o excedente da semanada e as ofertas dos avós podem contribuir para que a criança possa iniciar o seu pequeno aforro. Cada vez que a criança insere um valor no seu mealheiro, os pais devem aproveitar a oportunidade para lhe explicar que aquele valor serviria, por exemplo, para comprar dois gelados ou para comprar um jogo para a sua consola. Desta forma, a criança começa a ter consciência do valor das quantias em causa.
Aprender a contar
Para compreender o valor do dinheiro é imprescindível que as crianças saibam contar. Isto permitir-lhes-á saber se uma coisa custa mais do que outra, se têm de esperar pelo troco ou se o dinheiro que deram chega para pagar o que querem comprar. Todo este processo leva tempo, porque a noção dos números incorpora-se lentamente. Em suma, embora seja uma tarefa complexa. O importante é ensinar as crianças a manipular o dinheiro responsavelmente, serem generosas sem esbanjarem, serem organizadas sem se tornarem avarentas, serem honestas, tornarem-se consumidoras comedidas e atribuírem ao dinheiro um lugar mais dentro das necessidades pessoais e não o lugar mais importante.
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